top of page

Identificação da lesão do lutador e a adequada recuperação rápida do atleta

  • Foto do escritor: Dr. Joaquim Ribeiro
    Dr. Joaquim Ribeiro
  • 24 de dez. de 2016
  • 7 min de leitura

Atualizado: 7 de fev. de 2021

Assim como qualquer trabalhador, os atletas e esportistas também estão propensos a lesões em detrimento de suas atividades, sejam elas profissionais ou amadoras, frequentes ou esporádicas. Desta forma, é comum que, ao se iniciar uma atividade, o praticante desenvolva lesões características de cada tipo de esporte, em grande parte, relacionada com a biomecânica dos movimentos empregados na atividade. Exemplos disso são inúmeros, e comparando com o trabalhador tradicional, podemos citar: quando um professor começa a sentir dores no ombro correspondente à mão que escreve no quadro, ou um lutador de jiu jitsu quando "estoura" o pavilhão auricular, ou um pesquisador que sente dormências em um ou mais dedos das mãos, ou um praticante de taekwondo com dores nos joelhos, ou um frentista que está perdendo a capacidade de fechar a mão, com dores no pulso, ou um lutador de wrestling com lesões de ligamentos cruzados... Enfim, esta lista poderia se estender, comparando trabalhadores tradicionais com trabalhadores atletas ou conhecidos como atletas profissionais, porém, o foco é falar de lesões de atletas e como estas lesões podem ser tratadas precocemente.

Qualquer tipo de lesão relacionada ao esporte tem como base de entendimento, a mecânica do movimento durante o momento da geração da lesão, ou seja, um movimento repetitivo, como um “jab” (soco desferido com a mão da frente da guarda), vai gerar lesões que envolvem as estruturas deste ombro. Assim, mesmo que sejam micro lesões não perceptíveis, a continuidade irá gerar traumas que culminarão em inflamação e logo em bursites, tendinites e/ou tenosinovites, em alguns casos, até fraturas da cabeça do úmero por estresse.


Algumas lesões são mais comuns nas artes marciais ou lutas, são elas:

Periostite tibial ou síndrome de estresse medial da tíbia, também conhecido popularmente como canelite: como o próprio nome indica, na periostite, o perióstio inflama, gerando dor local e isto é um indicativo para parar a atividade. Acomete principalmente corredores que abusam das corridas e/ou caminhadas, exigindo frequentes contrações do músculo tibial anterior, o que é comum durante a pisada do calcanhar ao solo. O excesso de treino, de maneira a não permitir a recuperação, gera a inflamação, que no percurso da doença, irá acometer os tecidos adjacentes. Comummente é uma dor que se inicia na região anterior da tíbia (parte da frente da canela) e evolui para um aumento do processo inflamatório na região. Com a insistência nas atividades, a cronicidade da inflamação diminui o aporte de nutrientes e a capacidade regenerativa do tecido, evoluindo para lesões mais graves. Um fator que aumenta a predisposição a este tido de lesão é a falta de alongamentos e má execução da marcha (caminhada). Contudo, este mesmo processo pode acometer lutadores de muay thai, estes que utilizam muito de chutes que têm como objetivo, atingir o adversário com a canela. Desta forma, o evento que desencadeia a periostite tibial no lutador de muay thai é o trauma na canela, que quando não tratado, pode evoluir até que se diminua a resistência óssea, com isso causando uma fratura por estresse e/ou uma fratura transversa completa da tíbia, caso um impacto mais forte. Por fim, o tratamento em fase inicial é simples, onde o uso de eletroterapia (recurso da fisioterapia) promove analgesia (diminuição da dor), antinflamatórios controlam a inflamação, junto com compressas da gelo e o ultrassom e infravermelho (recursos da fisioterapia) aceleram a regeneração dos tecidos lesionados. Sendo indicado também o repouso ou atividades prescritas e monitorados pelo fisioterapeuta, assim, não se perde rendimento em casos em que o paciente é atleta profissional.

Lesões meniscais e dos ligamentos cruzados: geralmente ao lesionar um dos ligamentos cruzados, junto está a lesão de um ou ambos os meniscos, muito comum na execução de movimentos que exijam mudanças de direção, como no drible, momento em que o pé pode ficar preso á bola que está sendo tirada do jogador, em uma partida de futebol, forçando o joelho em rotação externa. Desta forma, em técnicas de torções dos tornozelos em lutadores de wrestling, ou na execução de chutes rodados no taekwondo, o mecanismo é o mesmo. Muitos acreditam que o tentar torcer o tornozelo, a lesão será causada no local, porém, o objetivo de uma “chave de tornozelo” é lesionar o joelho do adversário, compreendendo que as articulações do tornozelo servirão como ponto apoio da técnica. Neste sentido, as articulações do tornozelo não permitem rotações, forçando a rotação externa do joelho, este que não tem grande amplitude, causando a lesão de menisco por esmagamento. O mesmo ocorre nos chute rodado do lutador de taekwondo, que ao executar a técnica, pode ter sua base de apoio (pé de apoio), presa ao solo, impedindo que o pé acompanhe a biomecânica do chute, e com isso gerando a mesma lesão meniscal apresentada no wrestling e o grau de torção irá determinar a integridade do ligamento cruzado, onde em casos de torções extremas, o ligamento pode romper, sinal visto em testes de função (gaveta). Na maioria das vezes o tratamento é cirúrgico, contudo, em caso menos severos, é possível obter regressões significativas da lesão. Considerando que os meniscos são estruturas hipovascularizadas, o processo é lento e deve ser prescrito pelo fisioterapeuta, que impedirá retrações e formação de fribrose, além de manter a funcionalidade articular. Em atletas profissionais, ainda é possível incrementar o tratamento com protocolos acelerados, que mantêm o rendimento, massa e força muscular, permitindo reintegrar o atleta em menos tempo aos treinos.

Entorse de tornozelo: é uma lesão comum a todos os esportes e geralmente se dá pouca atenção a ela, com isso, este pode ser o “gatilho” que irá desencadear compensações anatômicas e logo posturais, que com a evolução, irá trazer prejuízos aos joelhos e coluna. Em condições de perfeitos reflexos, condicionamento muscular e tônus adequado, os corpo responde ao entorse impedindo que ele ocorra, contudo, em condições recidivantes, a resposta dos mecanorreceptores e o “feedback” pode não ser hábil para impedir a lesão. Assim, tanto os mecanorreceptores, quanto os ligamentos, caso não tratados, estarão em outra realidade de resposta, a qual em um novo entorse, irá gerar uma lesão, que apresentará leve edema e dor, podendo ainda, dependendo do grau do entorse, apresentar os 5 sinais cardinais da inflamação.

Microfraturas calcificadas das cabeças dos ossos metacarpais (calejamento do punho): este tipo de lesão não costuma trazer grandes consequências, salvo em casos de lesões com grande extensão e cumulativas, onde o grau de remodelamento ósseo limita a amplitude de movimento articular e/ou gera a degeneração cartilaginosa a ponto de promover artose local.

Inicialmente, praticantes de taekwondo e karate costumam socar estruturas próprias para este fim (dairionde ou makiwara), com a intenção de fortalecer os punhos e pulsos, além de dessensibilizar a região de impacto do punho, que geralmente são as cabeças metacarpais do II e III quirodactilos. Desta forma, o praticante não lesiona sua mão ao atingir o adversário, pois está treinado para este fim. Por outro lado, ao socar com grande força, e não estando com o adequando grau de fortalecimento ósseo, é as chances de fraturar as epífises metacarpais são altas

Ao socar, o praticante causa microlesões no osso, esmagando os canais de Volkmann e até os canais de Havers, estes que são lamelas ósseas para a distribuição de vasos que levam nutrientes para o tecido ósseo e também células fagocitárias, que retiram restos de tecido lesionado e aumentam a quimitaxia de células do sistema imune.

Essas microlesões são fraturas ósseas muito pequenas, causadas pela impactação de forças compactantes capazes de causar deformidade plástica com preservação das estruturas adjacentes. Assim, ao consolidar a microfratura, a região fica mais forte e eminente, sendo este o propósito da técnica, fortalecer a região de maneira a transformar o punho em uma “marreta”. Isso ocorre porque durante a fratura, ocorre o rompimento de pequenos vasos tanto no periósteo, endoósteo quanto no canal medular e isto gera a hemorragia, que irá formar um hematoma contendo mediadores inflamatórios que darão início ao processo de consolidação óssea. Logo, os fagócitos que contêm quimiotáticos sinalizarão para células que produzem colágeno, que se depositará no local. Com a evolução, células totipotentes irão se diferenciar em condrócitos, dando início à formação do tecido fibricartilaginoso, aumentando a agiogenese local, com isso os osteoblastos poderão realizar a conjugação do Ca++ com PO4, forma o fosfato de cálcio (Ca3(PO4)2), que quando cristalizado, irá gerar hidroxiapatita, conferindo dureza ao osso.

A deposição de matriz óssea (cristalização e formação de hidroxiapatita) será realizada pelos osteoblastos, formando os osteócitos e o colágeno permitirá a resistência necessária para suportar as tenções, sem que ocorra o rompimento da continuidade óssea. Desta forma, as fases de remodelamento ósseo se resumem em 1. hematoma, 2.inflamação, 3. formação do calo mole (tecido fibrocartilaginoso, onde ocorre a migração de elementos que irão consolidar a fratura, 4. consolidação da fratura, formando o calo ósseo e 5. Remodelação, onde o tecido fibrocartilaginoso foi substituído por tecido ósseo.


No MMA, ocorrem mecanismos de lesões que apresentam um leque ainda maior de possibilidades, já que é uma modalidade que mescla várias outras. Contudo as lesões serão características da modalidade de maior domínio do lutador, porém, por ser um esporte em que os praticantes buscam as técnicas mais eficientes para a vitória no “ring”, é normal que apresentem prevalências comuns. Exemplos disso são: a lesão do pavilhão auricular (pericondrite), que consiste na inflamação do pericôndrio (tecido conjuntivo que nutre a cartilagem do pavilhão auricular), resultado de consecutivos traumas que culminam na formação de pus entre o pericôndrio e a cartilagem. Esta lesão só pode ser tratada, controlando a inflamação e drenando o pus, e isso só se consegue antes da lesão promover a cicatrização. Quando em casos de tratamentos tardios, onde a fase inflamatória aguda não é presente e a lesão está consolidada e com aspecto fibrótico, apenas se obtém algum resultado por meios cirúrgicos. Ainda, estão presentes as lesões comuns do boxe, e muay thai, como bursites subacromiais, acompanhadas de condromalácia patelar, que é a perda da consistência da cartilagem que reveste a patela em sua vista posterior e também dos côndilos femorais, evoluindo para rachaduras e aumentos na possibilidade de desenvolvimento de gonartose (artrose de joelho) no decorrer dos anos. Geralmente, a lesão das cartilagens do joelho, em lutadores, está relacionada ao desalinhamento no deslizamento da patela na fossa intercondiliana, gerando valgismo e alterações no ângulo Q, também conhecido como ângulo do complexo extensor do joelho. Contudo, estes episódios são frequêntes também em praticantes de aikido, que precisam levantar do solo incansáveis vezes, devido às inúmeras quedas que a modalidade gera. Por fim, apesar do fato do MMA ser um esporte de contato, as lesões mais incidentes estão relacionadas ao trauma, como concussões, escoriações, cortes e entorses e hematomas.


Posts Em Destaque
Posts Recentes

Questões, dúvidas ou curiozidades...

 

Aqui você pode deixar seus questionamentos, que tentaremos esclarecer da maneira mais simples.

 

Basta clicar aqui e perguntar.

 

?!

2016 - Criado por jribeiroltda com todos os direitos registrados
bottom of page